sábado, 18 de julho de 2009

A Inclusão Digital - entre outras - na Educação

Estamos caminhando para uma nova fase de convergência e integração das mídias: tudo começa a integrar-se, a falar com tudo e com todos. Tudo pode ser divulgado em alguma mídia. Todos podem ser produtores e consumidores de informação. A digitalização traz a multiplicação de possibilidades de escolha, de interação. A mobilidade e a virtualização nos libertam dos espaços e tempos rígidos, previsíveis, determinados. O mundo físico se reproduz em plataformas digitais e todos os serviços começam a ter a possibilidade de serem realizados física ou virtualmente. Há um diálogo crescente, muito novo e rico, entre o mundo físico e o chamado mundo digital, com suas múltiplas atividades de pesquisa, lazer, de relacionamento e outros serviços. além disso, há possibilidades de integração entre ambos que impactam profudamente na educação escolar e nas formas de ensinar e aprender a que estamos habituados.
As mudanças que estão acontecendo na sociedade, mediadas pelas tecnologias em rede, são de tal magnitude que implicam - a médio prazo - em reinventar a educação como um todo, em todos os níveis e de todas as formas.
O problema do Brasil não é principalmente tecnológico, mas de dedigualdade estrutural. O mercado não resolve a desigualdade social, não inclui os mais pobres. As tecnologias não chegam a todos por igual. Por isso são importantes as políticas públicas de inclusão. O programa governamental de um computador por aluno propõe a que todas as escolas públicas, nos próximos anos, estejam plenamente conectadas com redes sem fio e que todos os professores e alunos tenham seu computador pessoal. Junto com isso haverá capacitação para que os professores transformem as aulas em atividades de pesquisa e de colaboração, para que sejam mediadores mais do que informadores. Só as tecnologias não mudam a educação, mas elas são importantes para flexibilizar o currículo, as metodologias, para focar mais a aprendizagem e o aluno do que o ensino convencional.
Além da inclusão digital precisamos da inclusão afetiva e também da ética. Na primeira, acolhem-se os alunos, valorizando-os, dando-lhes força, esperança, entusiasmo. Alunos motivados vão mais longe, caminham com mais autonomia. A afetividade é um componente fundamental pedagógico e contribui decisivamente para o sucesso pessoal e grupal. Na segunda, como vivemos em uma sociedade que valoriza muito a aparência - no sentido corporal e na representação de papéis - é necessário termos educadores que mostrem coerência entre o que ensinam e praticam, que se apresentem como seres em crescimento, com contradições, com acolhimento e incentivo. Num mundo de tanto "faz de conta", de tantas aparências e de tantas mentiras, educar dentro da verdade e da coerência já é uma grande inovação. A preocupação excessiva com a aparência, seja física ou social, mostra a dificuldade de mudar valores que nos ajudariam a crescer mais, porém que contrariam interesses, negócios. O glamour que atribuímos a qualquer pessoa só pelo fato de aparecer na televisão mostra quanto a educação ainda precisa avançar.
A educação tem um papel político fundamental: mostrar a todos que podemos mudar esse estado de coisas que está aí, essa banalização das aparências, do consumo, da mentira e da enganação descarada de muitos grupos, que dificulta sobremaneira a credibilidade das propostas educativas cidadãs.
As tecnologias não são o centro da mudança educacional, mas estamos num período fundamental de inclusão de todos no processo de ensino e aprendizagem: gestores, professores, alunos, funcionários e comunidade. As tecnologias evoluem muito mais rapidamente do que a cultura. Esta implica em padrões, repetição, consolidação e a cultura educacional, também. As tecnologias permitem mudanças que praticamente permanecem inexploradas pela inércia da cultura tradicional, pelo medo, pelos valores consolidados. Por isso sempre haverá um distanciamento entre as possibilidades e a realidade. O ser humano avança com inúmeras contradições, muito mais devagar do que os costumes, hábitos, valores. Intelectualmente também avançamos muito mais do que nas práticas. Há sempre um distanciamento grande entre o desejo e a ação. Apesar de tudo, está se construindo uma outra sociedade, que em uma ou duas décadas será muito diferente da que vivemos até agora.
Mesmo com tecnologias de ponta, ainda temos grandes dificuldades no gerenciamento das emoções, tanto no aspecto pessoal como no organizacional, o que dificulta o aprendizado rápido. As mudanças na educação dependem, mais do que das novas tecnologias, de termos educadores, gestores e alunos maduros intelectualmente, emocionalmente e eticamente. Pessoas curiosas, interessantes, entusiasmadas, abertas e confiáveis, que saibam motivar e dialogar; pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele sempre saímos enriquecidos. E isso não depende só de tecnologias, mas de programas estruturais que valorizem os educadores na formação e no exercício efetivo da profissão, com condições dignas, fazendo com que eles se sintam importantes. As tecnologias são parte de um processo muito mais rico e complexo, que é gostar de aprender e de ajudar a outros que aprendam numa sociedade em profunda transformação.
Quanto mais tecnologias avançadas, mais a educação precisa de pessoas humanas, evoluídas, competentes, éticas. São muitas informações, visões, novidades. A sociedade torna-se cada vez mais complexa, pluralista e exige pessoas abertas, criativas, inovadoras, confiáveis. O que faz a diferença no avanço dos países é a qualificação das pessoas. Encontraremos na educação novos caminhos de integração do humano e do tecnológico; do racional, sensorial, emocional e do ético; do presencial e do virtual; da escola, do trabalho e da vida em todas as suas dimensões.
Reportagem de JOSÉ MANUEL MORAN, Professor de Novas Tecnologias na USP;
Diretor Acadêmico da Faculdade Sumaré-SP.
Fonte: REVISTA APRENDIZAGEM- MARÇO/ABRIL - 2008
http//www.editoramelo.com.br
Postada por VALÉRIA NERY, 3 º Período - UFPB

Um comentário:

  1. As tecnologias são importantes, mas não devemos esquecer que se existem pessoas que não têm a menor chance de se encaixar dentro dos padrões exigidos pela sociedade elas ficam excluídas, não apenas pelo uso dessas tecnologias, pois mesmo alcançando o mínimo, seus saberes conquistados serão desvalorizados já que vivemos em uma sociedade onde os menos favorecidos são desprestigiados. Cabe a cada educador tentar mudar um pouco isso e resgatar os valores perdidos sobre o que é de funmental em uma educação.

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