Nesse texto, Baudrillard propõe uma crítica à dissolução da negatividade, empreendida pela comunicação a partir da simulação e da instalação de uma transparência definitiva, que ele denomina de brancura operacional. O autor argumenta que o embranquecimento, perseguido no campo da comunicação, manifesta-se também em outras dimensões da atividade humana criando uma socialidade e uma corporeidade brancas, numa espécie de assepsia total.
Trata-se de uma operação que tem como objetivo expurgar a negatividade do real e criar o hiper-real perfeito e transparente. Tal investimento na esteticização da vida em todos os seus aspectos e dimensões pode ser observado, por exemplo, na organização das vias de locomoção das grandes cidades de modo a tornar invisíveis os espaços que revelam as mazelas sociais e evidenciar os não-lugares como shopping center e aeroporto.
O caráter operacional é buscado por meio da submissão aos critérios de conveniência e compatibilidade máxima. Nesse contexto, “ser operacional” é resultado de um processo de instrumentalização de tudo e de todas as coisas. De modo que, não é a ação que está no comando, mas é ela que precisa ser comandada e controlada, de acordo com finalidades específicas e pré-definidas.
Esse comando da ação é operado por persuasão ou dissuasão, sobretudo midiática, que produz modelos de vontade e cria necessidades que alimentam a produção e o consumo no sistema capitalista. Nesse sentido, o comer, o querer, o saber, o fazer, o gozar são provocados ininterruptamente nas pessoas e, desse modo, a ação sofre um esvaziamento de sentido. É o próprio “eu” que, esvaziado de sua essência, torna-se transparente e pode ser atravessado pela informação e pela operacionalidade, transformando-se em “instrumento”. Processo esse de coisificação do humano que promove a perda de seu protagonismo na ação e na história.
Sendo assim, a busca pela performance tem na razão instrumental o suporte para determinar as fórmulas de perfeição/brancura que garantem o sucesso da ação, agora e sempre em função dos resultados e dos fins estabelecidos. Desse estado de coisas, o autor denuncia os maus presságios que já se revelam na existência humana contemporânea. Como exemplo, ele destaca os males e as doenças que acometem atletas e profissionais funcionais e performáticos. Os problemas decorrentes de treinos excessivos, as doenças ocupacionais, os distúrbios psicológicos, o comprometimento das relações sociais e a perda do sentido e do prazer que alimentam a pulsão de vida.
Contudo, é esse mesmo “desejo”, ameaçado e controlado na perspectiva apocalíptica de análise de Baudrillard, que permite a ruptura da lógica perversa que governa esse sistema. É a “vontade de sentir” que subverte o controle empreendido pelo sistema e potencializa a busca humana pelo que é possível em realidade. Por mais branco e perfeito que possa ser o hiper-real, à custa do esvaziamento de conteúdo e de sentido e da eliminação da diferença produz uma estética vazia, um nada que é consumido sem sabor, sem sentido e sem prazer, que serão mais cedo ou mais tarde cobrados pelo “desejo”, pela pulsão de vida que provoca a saída do hiper-real e o retorno a uma realidade possível.
Para compreender melhor a brancura operacional, assista ao filme "O show de Truman".
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